domingo, 21 de janeiro de 2007

A Estrada com o Ofício

Enquanto ando pela estrada sem fim
Oiço ao longe uma música original
Chego mais perto para a perceber
Era uma boa música por sinal
Embora não a entenda
A música acompanhou-me até ao fim da estrada

Sendo a estrada sem fim
Andei quilómetros e quilómetros
Encontrei velhos e novos amigos
Desde então ainda fiquei mais só
Porque eles não aparecem quando são necessários
Aparecem quando-lhes apetece
E eu não sou uma peça de um puzzle
Que é apenas colocada quando faz falta

Talvez não pareça
Mas sou uma pessoa igual a muitas outras
Posso ter asas, mas não consigo voar
Posso ter pernas e não conseguir andar
Assim como todos, tenho os meus defeitos
Mas o meu maior defeito é não ter feitio
Sigo o que vai na minha alma
Alma ensaguentada com o sangue de quem me perseguiu
Ou talvez com o sangue de quem me acompanhou
Não sei, não me lembro
Para mim são apenas manchas vermelhas num lençol negro

O caminho de cada um é único
Mesmo que tenha vários entroncamentos
Ou até vários sentidos
Em que se pode traçar laços e fixar personagens
O meu caminho apenas tem rotundas
É nelas que eu me encontro com alguém
Mas assim que a acabo de a contornar
Continuo sozinho como sempre
Porque a minha vida
É criar encontros e desencontros
Entre Passado e Futuro
Sou uma ponte em que todos pisam
Um elo de ligação que torna mais fácil o encontro

Mas sou uma ponte de madeira
Podre, queimada e velha
Que com a mais leve brisa de suspiros
Depressa se vai abaixo
Nem que fosse de ferro, eu me aguentaria
Porque tenho sentimentos
Não de dor, pois já me abituei a ela
Não de gozo ou desprezo, pois são meus companheiros
Mas sinto o Mal que me atrai
Ou o Bem que me repele
E por mais que me tente expressar
Ninguém me encontra nas profundezas em que vagueio

Sigo o que tenho a seguir
Quando chego ao fim de mais uma viagem
O Poço espera-me, de braços abertos
Depois de uma colheita exaustiva
É hora de terminar o meu trabalho
Entrego o meu corpo e sigo o meu culto

(Em cada época, uma estrada
Em cada estrada, treze pessoas
Em cada pessoa, dois sentimentos
Em cada sentimento, três interesses
Em cada interesse, sete passos
Em cada passo, cinco marcas
Em cada marca, um Apocalipse)

É em cada Apocalipse que entro em acção
Pois no Apocalipse há uma total Devastação
No fim da Devastação apenas fica um deserto
E o começo de uma nova época

1 comentário:

Jerónimo disse...

Não sei que te dizer.


Por todos nós: desculpa.