quarta-feira, 29 de abril de 2009

Escrita de Autocarro

Umas férias que ninguém pediu
Um fardo que só eu carreguei
Uma viagem feita ao interior
Com instrumentos desconhecidos do exterior

Uma vida encurtada pelo silêncio do sol nocturno
Um grito estridente vindo da mais pura estrela negra
O desgosto de perder quem se ama
O final inesperado na curva de um descomunal penhasco

O cair de um anjo num fosso espinhoso
A foice da morte aguarda para acolher mais um demente
O capuz cai, a face é revelada
O assassino das sombras faz uma vez mais cair o pano

Declara-se guerra ao amigo mais próximo
Criam-se alianças com os inimigos mais ferozes
Fazem-se pontes para facilitar o acesso a alvos objectivos
Reproduzem-se soldados para aniquilar o espiritismo

Quebram-se corações
Rasgam-se almas
Desmembram-se mentes
Obliteram-se existências...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Talvez Assim...?

Conjunto de pessoas conhecidas
Desconhecidos até há cerca de três meses
Contentes rematam as pedras de uma calçada perdida no tempo
Contentes sorriem de formas exprissvas
Alegres fantasiam acerca do futuro
Não se dão conta que já estão perdidos no escuro
Pois isso não os afecta
E nas suas mentes, nunca os afectará
Porque são os melhores amigos
E os melhores amigos nunca se separam...

Anos passam e que é feito dessa grande amizade?
Está encalhada na mesma calçada que todos pisaram há tempos
Que pisaram e voltaram a pisar por dias a fio
Assim como fizeram com a sua preciosa amizade
Ao longo das horas e sem se darem conta
Não se foi destruindo
Mas foi diminuindo
Talves se veja hoje em dia
Talvez não
Pode, por ventura, não passar de uma memória
Assim como pode estar bem viva apenas numa fotografia
E quando se lhe põe os olhos em cima
Estes, cheios de lágrimas, fechar-se-ão
Não por não querer dar parte fraca,
Porque "Homens não choram",
Mas sim por não querer sofrer mais
Pois aqueles melhores amigos estão longe
Mas bem perto do coração

Uma Criança, Uma Rapariga, Uma Amiga, Uma Vida

Uma criança
Vestidinho branco e rosa
A baloiçar nos ramos das árvores de sua casa
Cai e faz "dói-dói"
Chora desesperadamente numa pobre tentativa de ser ouvida
Vê o sangue a sair por aquela ferida crua no seu joelho
Levanta-se a muito custo
Já está tudo bem de novo
Desta vez baloiça num pneu preso por uma corda ao ramo da mesma árvore
Criança de pequenas dimensões, de pequena mentalidade
Pobre miúda triste e abandonada
Deixa-se dormir naquele sujo e podre pneu
Sonha com o fantástico Príncipe Encantado que a salvará da sua existência desmotivada
Dá voltas e voltas pelo mundo em apenas quinze minutos
Acorda passados alguns anos
Com o mesmo vestido branco e rosa
Deambula pelas ruas frias na noite de uma cidade
Encontra um pobre animal de quatro patas estendido no chão
Aconchega-o ao seu corpo fraco e gélido
Quase sem vida os dois companheiros se aventuram num beco sem saída
Apanhados de surpresa por um senhor vagabundo
De faca na mão e garrafa na boca
O animal designado Cão salta para proteger a agora sua amiga
Pobrezinho morre esfaquiado
Vagabundo sem escrúpulos avança perante a rapariga
Que com um surriso nos lábios lhe agradece
O abraça, e nos seus braços se deixa morrer...