domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Padre Metaleiro - Parte 2

Quando deitado na maca do hospital, já mais morto que vivo, sinto o meu corpo a flutuar, uma sensação de bem estar, de paz. Quero gritar mas não consigo, quero exprimir-me de qualquer maneira, mas não consigo. Nem um som, nada, zero... Prefiro morrer a ficar paralizado e eternamente calado neste estado de vegetação permanente.
Morro por dentro ao ver a chuva cair e os meus pensamentos a desvanecer, já não pertenço mais a este mundo, e parto, parto feliz, parto triste, parto livre mas preso, parto mas fico...
Dias depois levam-me dquele local já tão familiar para me enfiarem dentro de um caixão. Basicamente encaixotaram-me, como se fosse mexilhão. Três passos em frente, dois passos para ao lado, o caminho directo para a igreja. Já no meu funeral oiço mulheres que choram forçadamente e crianças que correm pela igreja, cheias de energia. De repente, vejo uma luz enorme e oiço uma voz “TU NÃO PERTENCES AQUI! VOLTA PARA CASA!” e ao acabar de ouvir isto berro o mais alto que posso, dou uma pancada com toda a minha força no caixão e este abre-se. Todos olham para mim, estavam a fazer o funeral de um morto e, do nada, este voltou a vida. Chamaram-me monstro, fantasma, acusaram-me de desrespeito a tudo e todos, correram-me à porrada não só da igreja mas também daquela região. Vi-me obrigado a procurar uma vida fora dali, mas todos os dias falava com a Divindade, aquela que me havia salvado dos sete palmos de terra.
Quando cheguei a uma localidade um pouco estranha, pequena e muito amável, percebi que aquela localidade era uma espécie de refúgio para todos os que tinham sido abandonados e obrigados a deixar as suas vidas. Percebi que algo faltava naquela pequena mas tão grandiosa localidade, um local de culto, uma espécie de igreja que venerasse a vida, a Divindade da vida. Fundei uma igreja com esse fim e tornei-me padre. Missas cantadas em Death Metal cujas letras veneram a vida, toda a localidade se tornou seguidora, e somos felizes.

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