“O portal fechou-se, e dentro dele ficaram todas as criaturas que dele tinham saído. Todas excepto uma…”
- Já está? É só isto? Que decepção… E são livros destes considerados os melhores de sempre e tretas afins… Tristeza de mundo, se bem que seria interessante uma boa duma vampira aqui… Ai se era…
Foi desta maneira que terminei de ler o livro que todos os meus amigos me aconselharam a ler, mas não pude disfarçar a minha desilusão. Num mundo cheio de tanta coisa mágica, porque só se escreve sobre vampiros? Porque não um livro acerca de unicórnios, ou borboletas? Não se vê nenhum livro que fale de como são bonitas as borboletas ou de como uma borboleta vive a sua adolescência. Ou se queremos ficar apenas pelos humanóides, como seria a vida de alguém com uma maldição que obrigasse a pessoa a viver como uma gárgula nocturna? Pedra de noite, humano de dia… interessante não? Ou talvez apenas alguém com esquizofrenia, ou alguém possesso?! Mas não, o mundo não está preparado para tal coisa… Em vez disso tudo o que se vê são “Twilights” e “Vampire Diaries” por tudo quanto é livraria e tomando nomes e tamanhos diferentes, depois é filmes e series televisivas baseadas nestas duas sagas de livros ou noutras às quais estas possam ter ido buscar inspiração, o que é certo é que nada é original… Mas enfim, o mundo gira e a chuva continua a cair nesta noite invernosa de tempestade.
O sol bate-me nos olhos à medida que vou acordando lentamente e a minha mãe já grita “Alexandre Romeu, desce já essas escadas!”, nisto entra o meu irmão no quarto.
- Se queres boleia despacha-te, o Jonas já chegou para vir buscar a Salomé e não deve demorar a ir embora.
- Sim Fred… Eu hoje vou de bicicleta…
Desço as escadas ainda a cambalear de sono e a meio do processo a que chamam vestir, agarro numa torrada e vou comendo pelo caminho. Pego na bicicleta estacionada na garagem e começo a pedalar. Chego à escola já atrasado mas ainda a acabar de tragar a torrada mas tal não me impede de irromper pela sala de aula.
- Professor Dias, posso?
- Para você é Dr. Dias! E não, não pode sem antes terminar essa torrada repleta de manteiga, esse apetitoso bocado de pão torrado a uma temperatura não muito quente, essa fatia divina…
- É servido? – Pergunto eu procurando satisfazer o desejo aflito do Dr. Dias.
- Não, não senhor! – Recompõe-se o Dr. Dias um pouco atrapalhado – e faça o favor de se sentar!
- Mas ainda não terminei a minha fatia divina…
- Não lhe deram educação em casa?! Não sabe que quando o professor manda o aluno obedece?!
- A minha mãe encarregou-se disso, e deixe-me dizer-lhe que fez um óptimo trabalho. Como tal, dê-me licença que vou entrar, sentar-me e acompanhá-lo a si e aos meus colegas em mais uma das suas nada aborrecidas aulas.
- Mais uma dessas e assiste à aula do lado de fora do edifício.
As aulas passam depressa e já é hora de almoço. Encontro-me com os meus amigos na cantina da escola. Sentados na mesa do costume, no fundo da cantina no canto direito, já lá estão a Luísa, a Marisa e o Júlio.
- Boas pessoal!
- Que o sol ilumine essa tua face horrenda… Acordaste agora?
- Não Júlio não, mas podia.
- Estás mesmo mal tratado moço. Que fizeste esta noite? Brincaste um bocadinho contigo mesmo? Foi? Foi? – Pergunta Marisa num tom de brincadeira.
- Marisa, isso é algo íntimo meu, e não, não foi o que aconteceu. – procuro disfarçar o meu sorriso maroto – Fiquei foi a acabar de ler aquele tal livrinho da treta, que mais parece um jogo de vídeo que retira a maior parte dos aspectos dos livros de vampiros que se vêm aí hoje em dia, e deixei-me dormir tarde.
- Vai alimentar-te e senta-te aqui connosco.
No caminho para a fila do bar olho pela janela e vejo o meu irmão à luta com um rapaz. Vou lá fora ver o que se passa e apercebo-me que o motivo da luta é, mais uma vez, uma rapariga.
- Não tinhas nada que te meter com ela! Sabes muito bem que ela estava comigo! – Grita efusivamente Fred para o indivíduo encapuzado.
- Meu, tu curtis-te com ela quê? Sete, oito vezes no máximo não? Daí a “estar contigo” vai uma grande diferença…
- Cala essa boca camelo! – Fred guincha estas palavras ao empurrar o seu punho fechado contra o estômago do oponente que fica atordoado por um pouco, aproveitando Fred para espancá-lo.
- Frederico Antunes! Já para o meu gabinete! – Ordena a Senhora Etelvina, directora da escola, e num estalar de dedos dois dos seguranças agarram no meu irmão.
Espero por ele à porta do gabinete e quando ele sai pergunto-lhe em que se meteu desta vez.
- Foi o maricas do Leo, meteu-se com a Rita.
- Sim, e onde entras tu nesta história?
- Entro na parte em que ele se vai meter com ela, quem está com ela sou eu! Ele não tinha nada que se meter com ela se sabia que ela estava comigo!
- Sim mas… Tu sabes como as coisas são hoje em dia, e tu não namoras com ela pois não?
- Não, nem tenciono fazê-lo. Mas se ela tem andado a curtir comigo há umas duas semanas não tinha nada que andar a curtir com outros ao mesmo tempo.
- Tens que rever muitas coisas amigo. – Afirma Rita que acabara de aparecer – Eu sou livre, faço o que quero, com quem quero, porque quero, como quero e quando quero, e não é lá por te ter agarrado nos tomates uma porção de vezes que vou passar a ser a tua cadela. E para que conste, ele é melhor do que tu… – Rita encosta a boca ao ouvido de Fred - …em tudo. – Sorri e abandona o corredor sem olhar para trás.
- Vês mano? Ela não vale a pena, só estava a brincar contigo, a fazer de ti parvo. E conseguiu…
- Mas não se vai rir durante muito mais tempo… E quanto aquele Leo, há qualquer coisa de estranho com ele, e eu vou saber o que é.
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