- Mr. Seixo. Mr. Seixo Paulo. – Uma voz mecanizada chama.
- Sim, sim, estou a ir… Esta gente não sabe esperar. – Profere um personagem já meio calvo – Então vamos lá ver que foi agora… Yes, It’s me here!
- Oh Mr. Seixo, glad you could make it. I am so in need of your services. – é um homem muito mal encarado quem fala.
- You know how it’s done. Leave the envelope at the exit.
- Thanks for everything Mr. Seixo. – O homem sai com um ar parcialmente renovado, como se ventos frescos lhe limpassem a alma.
- Estes americanos da treta, não sabem fazer as coisas sozinhos… E depois vêem ao meu gabinete incomodar-me… Paspalhos… Mas vamos lá ver o que este agora quer… - abre o envelope e desenrola a folha – Hmm… “Three guys ate my wife…” Boa, e que quer ele que eu faça? O corno é ele! Tenho pena mas nada posso fazer. – e joga a folha para um monte de outras tantas idênticas.
Senhor Paulo Seixo, português sonhador em busca de uma vida melhor, residente numa pequena província dos Estados Unidos, perto de um, também este pequeno, aeroporto. Tem um gabinete que ajuda casos…não se sabe de quê, e muito menos se sabe como ajuda, mas alega fazê-lo.
À noite, já pronto para dormir, vem à cabeça de Paulo uma imagem do pedido de ajuda que recebera anteriormente naquela tarde. Um pressentimento de que havia algo que lhe tinha escapado. Assim, procurando deixar a sua mente mais limpa, levanta-se para ir até ao seu escritório e, quando lá chega, nota em falta a carta que procurava. Revista o escritório de uma ponta à outra e tentando não se irritar, pois só ele sabe como é difícil de se acalmar quando se irrita, respira fundo e olha pela janela, uma linda e maravilhosa lua cheia preenchia o céu, rodeada de poucas nuvens escuras, e com um tom um tanto ou quanto alaranjado. Pasmado, fica a contemplar tamanha beleza nunca antes vista por aqueles olhos. Eis quando ouve um barulho vindo da cozinha de sua casa. Um pouco assustado, mas nada que pudesse deixar transparecer, caminha lentamente até a cozinha onde encontra um pequeno anão a revistar-lhe o microondas.
- Minimeu? És tu? – Pergunta em tom de surpresa, medo e gozo.
- Minimeu o cara…ças! – Retalia ferozmente o pequeno ser.
- Que procuras?
- Algo que ainda não encontrei! Mas onde poderás tu tê-la escondido…? Diz-me!
- Mas escondido o quê? Eu não tenho nada a esconder!
- A não ser a própria face! Nem aqueles que te contratam sabem a cara de quem os safa dos problemas!
- Porque isso tornar-se-ia um problema para mim! Mas diz ao que vens! Ordeno-te!
- OK, eu vou-te dizer… - Num golpe muito baixo e desviando a atenção de Paulo, o anão joga-lhe os grandes dentes afiados à barriga e deixando-o gravemente ferido, foge pela janela.
Paulo nem soube ao certo o que lhe aconteceu. Como poderia uma criatura tão pequena ter tanta força nos maxilares? Onde iria um ser humano buscar tanta força? Era algo sobrenatural. No entanto a sua noite apenas começara e os barulhos não cessavam. Levanta-se a muito custo e, de olhos bem fechados, segue o som até à sua origem. Uma sonoridade cada vez mais ruidosa e horrenda deixa de se notar no momento em que entra no seu quarto e vê a carta que procurava há pouco. Pega nela e lê-a com mais atenção.
“Three guys ate my wife… but she keeps walking around in the neighborhood! She is falling into pieces! She is fucking rotten!!!” Escandalizado com o que acaba de ler, Paulo deixa de sentir quando leva com uma enorme pancada na cabeça. Desmaia por breves segundos e quando recupera os sentidos uma mulher meio podre tenta comê-lo vorazmente. Empurra-a, não sabe bem com que força, e consegue escapar de debaixo da desconhecida. Sente algo a efervescer na sua corrente sanguínea e joga-se com tanta força contra a, chamemos-lhe zombie, despedaçando o que faltava. Com o apartamento cheio de sangue, Paulo sabe que não pode permanecer ali por mais tempo. Volta a agarrar na carta e com o sangue que lhe escorre pelos dedos escreve, com letras bem grandes e sobre tudo o que já se encontrava escrito, “DONE”.
Após um bom banho, uma mudança de visual e a aplicação de um perfume irresistível, Paulo rouba um pequeno avião do aeroporto e debanda dali.
- Óptimo, agora saber como se guia isto como deve ser…
Após viajar meia dúzia de quilómetros, já vendo a costa lá bem ao fundo, perde o controlo do avião, que se despenha, caindo em pleno mar…
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