sábado, 30 de junho de 2012
Isto é que vai um trinta-e-um
Quando decides a tua mente, quando fazes as malas e te preparas para embarcar e tomar um novo rumo, de repente, quase sempre, tudo desmorona. As incertezas voltam, os medos de que não seja o melhor a fazer. As memórias do caminho que te levaram onde estás agora, e que, ironicamente, é esse o caminho que neste momento pretendes abandonar. Mas não abandonar por completo, apenas fazer um pequeno desvio.
Abanas novamente a cabeça na esperança de retirar os pensamentos menos bons, como se fosses uma criança que acredita que eles te vão voar pelos ouvidos, mas eles não voam assim tão facilmente, eles não voam de maneira nenhuma, por mais força que empregues ao chocalhar o teu crânio, a tua, cada vez mais, caveira.
Agora dói-te o cérebro, e páras. Estás com tonturas, sentas-te. Ficas com vómitos, sentes o teu estômago às voltas, reparas que na tua face escorre água salgada, primeiro uma gota, depois outra, depois aos pares, e ainda antes de te dar vontade de as limpares já desiste da ideia pois o fluxo de lágrimas é igual ao da fonte de sangue que jorra do teu coração.
Sem a ajuda de ninguém conseguiste espetar uma faca bem afiada mesmo no centro do teu peito, os ossos para ti são agora uma mentira, os músculos inexistentes e os sentimentos são tudo o que te resta. O teu intelectual já não te é tão claro como pensavas há meia hora atrás, e o caminho de tijolos amarelos reluzentes que vias é agora um riacho poluído e curvilíneo. Largas as malas, baixas os braços, olhas para os teus pés, notas que estão lamacentos, estão totalmente sujos com uma pasta castanha e mole. Será que a consegues malear? Não, obviamente que não. Não deixes que a estupidez te leve a acreditar que podes utilizar essa coisa nojenta para concretizar o teu caminho! Sabes ao menos como isso foi aí parar? Não pois não? Então pára! Já chega...
Basta de ilusões que não te levam a lado nenhum, ainda não te cansaste de acreditar que a tua vida é realmente tua? Agora apercebes-te de que a tua vida não é tua, de que é apenas fruto das circunstânceas, que o teu rumo é uma espécie de destino que estreita e encurta consoante a luta que ofereces, e pensas, de ti para ti, que não há já muito a fazer, deixar andar é aquilo que pressentes ser o melhor.
Agora sim, jogas as mãos à cara para te limpares e secares, mas já vens tarde, não tens a cara molhada, o líquido já secou, quer à superfície quer por baixo dela, o punhal cravado prependicularmente ao teu tronco já começa a apodrecer. O tempo esgota-se.
Mexe-te! Move esse cu flácido e gordo dái! CORRE! O tempo esgota-se. Olhas em volta mas não vês nada, cegaste! És invisual e invisível para ti mesmo. O tempo esgota-se. Pensas que se não vês o mundo o mundo também não te vê a ti, tentas fugir, esbarras contra a parede, até podes fugir mas não te podes esconder, e pelo andar da carruagem nem fugir consegues. Estás prestes a morrer e o tempo esgota-se.
Queres deixar coisas para trás, queres manter outras. Queres evoluir mas tens medo de partir, medo de fugir, medo de sorrir, medo de te ver e medo de sentir. Tens medo que o tempo se esgote antes de tomar a tua decisão, e agora sentes a pressão nos teus ombros, a carga é enorme, foge, foge, foge, corre, acelera o passo, acelera o pensamento e faças o que fizeres não olhes para trás, pois o Passado vai estar sempre a olhar para ti, a chamar-te de volta e se te voltares vais sucumbir. Corre cabrão, corre. O tempo esgota-se. Pões o teu boné virado para trás, como fazias com 10 anos, fechas os olhos com força e abres com ainda mais força, fazes força com os pés no chão que é agora de terra batida na esperança de teres um óptimo impulso para o que aí vai, fazes força a cerrar os punhos com força. O tempo esgota-se. Escorregas, cais, toda a força que fizeste desvanece numa nuvem de gás com os teus pensamentos. O Tempo esgotou-se.
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