Abres
os olhos sobressaltado, estás enrolado nas mantas velhas e rotas, a morder
parte delas com todos os teus dentes, escorres suor como se fosse água, sentes
as tuas orelhas quentes e a tua testa a palpitar violentamente. Tentas
levantar-te mas é-te impossível tal feito, chegas à conclusão de que estás
doente, demasiado febril para andar, que possivelmente é desta que se acaba a
tua jornada. Agradeces a ti mesmo por teres tomado a decisão de seguir o teu
sonho tornado objectivo, encostas a cabeça ao teu ombro e pensas como é
estranho que o consigas fazer. Nunca tinhas parado para pensar nisso, mas o teu
corpo faz coisas estupendamente estranhas, coisas que nunca falaste com ninguém
por achares que é algo de que toda a gente se iria rir, é algo que não te faz
sentido, como das vezes em que leste que era impossível lamber o teu próprio
cotovelo e fizeste uma figura triste a tentar fazê-lo, ou ainda aquela outra
situação em que tentaste fazer sexo oral a ti próprio e a coisa não correu bem
como esperavas. Desatas a rir desalmadamente a acreditar que a tua vida foi um
apanhado de situações ridículas que não podiam ter acontecido a mais ninguém,
pelo menos o teu humor ninguém to tira e acreditas que é aí que reside a tua
essência, e acima de tudo, a tua humanidade. A muito custo jogas a mão à
mochila e procuras pelo relógio que tens ideia de ter trazido contigo, como não
tens muita coisa na saca cor-de-laranja consegues perceber que estás enganado e
que não trouxeste qualquer tipo de dispositivo que mantenha o percurso do tempo
nas unidades humanas, começas a duvidar da tua sanidade e ao veres um monte de
pedras retiras uma delas, olhas para ela como se fosse uma pérola e espeta-la
entre os olhos. Não sabes bem ao certo o porquê de o teres feito, apeteceu-te. Pelo
buraco que ficou no monte de pedras consegues ver que este esconde algo mais
que apenas rochas para automutilação, esticas o braço direito e não lhe chegas
nem perto, tentas com o esquerdo e surpreendentemente nem precisas de o
esticar, voltas a ter a sensação de que o teu braço não costumava ser tão
longo, mas não dás muita atenção a esse pensamento. O objecto que estava
debaixo das pedras é um relógio. Examina-lo e vês as horas, 16:16 “ao menos
morro com alguém a pensar em mim”, fechas os olhos e inspiras profundamente,
susténs a respiração. Tudo seria tão mais fácil se conseguisses simplesmente
sufocar-te. Tens a infeliz ideia de retirar os cordões das tuas sapatilhas e
enforcares-te com eles. Enrolas os cordões à volta do teu pescoço, fazes um nó
de deslizar, e lentamente começas a puxar uma das extremidades, sentes o teu
pescoço a ser apertado, “que bem que isto sabe”, pensas. Sentes que talvez
ainda consigas retirar mais prazer desta tua ação, e lentamente começas a
sentir-te excitado sexualmente e dás por ti a masturbares-te. Primeiro de forma
vagarosa, com cuidado, como se acariciasses o teu animal de estimação favorito,
depois com mais entusiasmo e finalmente como se a fúria dos deuses te caísse em
cima. Empregas todas as forças que te restam a dar-te um último prazer, sentes
o espaço ao redor dos teus olhos a encher-se de sangue, sentes o teu pescoço a
entupir, pelo esforço que fazer tentas por tudo apanhar o máximo de ar
possível. Já tinhas ouvido dizer que a masturbação e o sufoco andavam de mão
dada, mas nunca desconfiaste de que seria uma experiência tão marcante, algo
que te fizesse querer explodir de dentro para fora, no sentido figurado e
literal. Gritas, gemes, chamas por quem costumas chamar sempre que te dás
prazer a ti próprio, sentes-te cada vez mais próximo do orgasmo e puxas a ponta
do cordão ao máximo. Começas a ter convulsões enquanto atinges o clímax sexual,
dás cacetadas com os teus membros superiores e inferiores no chão e nas
paredes, acreditas que desta vez vais curar mais que apenas uma dor de cabeça, jorras
os teus fluídos por tudo quanto é lado e reviras tanto os olhos que acreditas
que consegues ver a parte de dentro da tua cabeça.
- Ah,
que se foda! Morro feliz…
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