segunda-feira, 9 de julho de 2012

Mystique Résidence - Parte Três


                Abres os olhos sobressaltado, estás enrolado nas mantas velhas e rotas, a morder parte delas com todos os teus dentes, escorres suor como se fosse água, sentes as tuas orelhas quentes e a tua testa a palpitar violentamente. Tentas levantar-te mas é-te impossível tal feito, chegas à conclusão de que estás doente, demasiado febril para andar, que possivelmente é desta que se acaba a tua jornada. Agradeces a ti mesmo por teres tomado a decisão de seguir o teu sonho tornado objectivo, encostas a cabeça ao teu ombro e pensas como é estranho que o consigas fazer. Nunca tinhas parado para pensar nisso, mas o teu corpo faz coisas estupendamente estranhas, coisas que nunca falaste com ninguém por achares que é algo de que toda a gente se iria rir, é algo que não te faz sentido, como das vezes em que leste que era impossível lamber o teu próprio cotovelo e fizeste uma figura triste a tentar fazê-lo, ou ainda aquela outra situação em que tentaste fazer sexo oral a ti próprio e a coisa não correu bem como esperavas. Desatas a rir desalmadamente a acreditar que a tua vida foi um apanhado de situações ridículas que não podiam ter acontecido a mais ninguém, pelo menos o teu humor ninguém to tira e acreditas que é aí que reside a tua essência, e acima de tudo, a tua humanidade. A muito custo jogas a mão à mochila e procuras pelo relógio que tens ideia de ter trazido contigo, como não tens muita coisa na saca cor-de-laranja consegues perceber que estás enganado e que não trouxeste qualquer tipo de dispositivo que mantenha o percurso do tempo nas unidades humanas, começas a duvidar da tua sanidade e ao veres um monte de pedras retiras uma delas, olhas para ela como se fosse uma pérola e espeta-la entre os olhos. Não sabes bem ao certo o porquê de o teres feito, apeteceu-te. Pelo buraco que ficou no monte de pedras consegues ver que este esconde algo mais que apenas rochas para automutilação, esticas o braço direito e não lhe chegas nem perto, tentas com o esquerdo e surpreendentemente nem precisas de o esticar, voltas a ter a sensação de que o teu braço não costumava ser tão longo, mas não dás muita atenção a esse pensamento. O objecto que estava debaixo das pedras é um relógio. Examina-lo e vês as horas, 16:16 “ao menos morro com alguém a pensar em mim”, fechas os olhos e inspiras profundamente, susténs a respiração. Tudo seria tão mais fácil se conseguisses simplesmente sufocar-te. Tens a infeliz ideia de retirar os cordões das tuas sapatilhas e enforcares-te com eles. Enrolas os cordões à volta do teu pescoço, fazes um nó de deslizar, e lentamente começas a puxar uma das extremidades, sentes o teu pescoço a ser apertado, “que bem que isto sabe”, pensas. Sentes que talvez ainda consigas retirar mais prazer desta tua ação, e lentamente começas a sentir-te excitado sexualmente e dás por ti a masturbares-te. Primeiro de forma vagarosa, com cuidado, como se acariciasses o teu animal de estimação favorito, depois com mais entusiasmo e finalmente como se a fúria dos deuses te caísse em cima. Empregas todas as forças que te restam a dar-te um último prazer, sentes o espaço ao redor dos teus olhos a encher-se de sangue, sentes o teu pescoço a entupir, pelo esforço que fazer tentas por tudo apanhar o máximo de ar possível. Já tinhas ouvido dizer que a masturbação e o sufoco andavam de mão dada, mas nunca desconfiaste de que seria uma experiência tão marcante, algo que te fizesse querer explodir de dentro para fora, no sentido figurado e literal. Gritas, gemes, chamas por quem costumas chamar sempre que te dás prazer a ti próprio, sentes-te cada vez mais próximo do orgasmo e puxas a ponta do cordão ao máximo. Começas a ter convulsões enquanto atinges o clímax sexual, dás cacetadas com os teus membros superiores e inferiores no chão e nas paredes, acreditas que desta vez vais curar mais que apenas uma dor de cabeça, jorras os teus fluídos por tudo quanto é lado e reviras tanto os olhos que acreditas que consegues ver a parte de dentro da tua cabeça.

                - Ah, que se foda! Morro feliz…

Sem comentários: